quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Crentes

Comecei a escrever esse conto em abril de 2009 e nunca o conclui. Na época eu lhe dei o nome provisório de "Crentes". Há vários problemas nele principalmente na composição do texto. Era só uma experiência pra ver se eu conseguia escrever algo um pouco mais complexo. Bom, eu não consegui. Hoje pela manhã o encontrei no meio da bagunça e resolvi postá-lo.


Discretamente Neidinha levanta o braço esquerdo. A função que ele realiza neste momento não é tão importante. Olha para relógio que ganhou da avó, no ano passado. São 6 e 13 (na verdade são 18 horas, 13 minutos e 27 segundos). Pensa, a situação não lhe permite falar: É melhó mi apressá si não chêgu atrasada di nôvu. No domingo passado teve que inventar uma mentira, a terceira só este mês. Tomou uma bronca e uma tapa do pai, irmão Medeiros. A mão esquerda retoma sua não tão importante tarefa: acariciar os ovos de Lúcio enquanto este lhe empurra a cabeça contra a rola. Com a mão direita ela lhe bate uma punheta. Não o chupa, mas tenta. Mantém a cabeça do pau dentro da boca. Durante o vai-e-vem sua mão direita bate contra seus próprios lábios. Pensa, a situação não lhe permite falar: Si a rola dêli fôssi um pouco maió talvez íssu não acontecêssi. Vez ou outra Neidinha engasga. Lúcio lhe empurra a cabeça para baixo e a toca na garganta. Nas muitas vezes que isso acontece, durante o processo, ela rapidamente se afasta, tira o pau da boca e tosse uma tossidinha de ânsia de vômito. Quase vomita. Uma tira grossa de cuspe faz uma pequena ponte entre sua língua e a cabeça do pau de Lúcio. Respira fundo e volta ao “trabalho”. Pensa, a situação não lhe permite falar: Pu favo benzinhu, mi avisa quando istivé pértu, tá? Está bem perto. Chega a hora, mas ele não avisa. Goza sem avisar, lhe segurando a cabeça com força. Deposita tudo dentro de sua boca, só a solta quando despeja a última gota. Ela sufoca. Se solta com a boca cheia de “leitinho” e os olhos cheios de lágrimas. “Vou vomitar.” Pensa. A situação não... Tenta segurar pelo menos até chegar ao banheiro. Não consegue, cospe tudo ali mesmo em cima no tapete. Faz uma cara horrível: Pôxa, eu já falei! Olha para ele deitado no sofá. Satisfeito. Vai para o banheiro. Irritada Grita: Traz uma toalha! Olha-se no espelho. Há um pentelho entrando no seu nariz. Descobre que não tem água. Apela para o papel higiênico. Um pedaço fica preso no canto de sua boca. Quase não sai. Colou na gala. Lúcio bate na porta:

_ A toalha.

_ Deixa, num tem água (com um tom mais tranqüilo).

_ Tu vai pra igreja, hôji?

_ Vô, i tu?

_ Tenho qui í. O Silvêra tá duente. Vô tê que ficá no lugá dele hoje.

_ Num gosto quando você faz íssu. Já ti falei. Eu num sô Puta.

_ Eu sei qui tu num é puta. Foi mal, pô. Num deu pra sigurá.

“Num deu pra sigurá”. Aquelas palavras soaram ridículas aos ouvidas de Neidinha. Pelo contrário, ele lhe segurou muito bem a cabeça enquanto esporrava em sua boca. “Imbecil!” Pensou. A situação lhe permite falar, mas preferiu deixar as coisas como estão, afinal eles se amam e não devem deixar que uma coisa tão pequena, mesmo que repetitiva, atrapalhe as coisas.

Sai correndo. Olha para relógio que ganhou da avó, no ano passado. São 10 para as 7 (na verdade são 18 horas, 50 minutos e 1 segundo). Sua boca ainda está colando. Sente um odor que lembra água sanitária. Só ela sente. Está no seu nariz. O culto começa as 7 e meia (na verdade começa as 19 horas e 30 minutos). Entra em casa desconfiada. O cachorro a vê. Se reconhecem: Sai, sai. O pai não está. Foi na oficina do Guilherme pegar o carro. Respira aliviada. A mãe lhe diz algo que devido a pressa lhe soa incompreensível. Responde: Tava istudando. Sem que a mãe perceba, com o indicador e o polegar imita o formato de um cu. “Tava ístu dando.” Pensa. Ri sozinha. A situação não lhe permite compartilhar tal coisa. Não dá tempo de jantar. Come na volta. Entra no quarto, pega a toalha e uma calcinha limpa. “Será qui tem água.” Pensa. Esbarra com irmã saindo do banheiro: Sai da frênti sua idiota! Entra e tranca a porta. Respira aliviada. Tem água.

Rosimeri pensa enquanto seca o cabelo: Rapariga safada, pensa qui eu num sei ôndi ela tava. Tava era chupando a rola daquele nojêntu. Quando painho subé ela vai tumá no cu.

O telefone toca. No segundo toque irmã Branca atende:

_ Alô, quem é?

_ Qui demora Muié! Olha vai na frente. O carro ainda num tá pronto. Daqui a pouco chêgu lá, visse?

_ Tá, bêjo. Te âmu!

_ Tu, tu, tu, tu, tu...

Anda Josineide. Grita irmã Branca. Agênti vai si atrasá!

Neidinha sai do quarto vestindo um vestido branco longo com detalhes em gripi, porém tão apertado que sua exagerada bunda de irmã da Assembléia de Deus, parece convidar todos os vagabundos de rua para uma grosseira apalpada.

A bunda de Rosimeri é igualmente grande apesar de ser dois anos mais nova que a irmã. Usa aparelhos nos dentes e seu rosto é coberto por pequenas sardas o que lhe dá um certo charme. Namora, há um ano, Paulinho, o filho de um presbítero puritano que sempre faz questão de dizer que casou virgem com uma mulher que lembra um zumbi daqueles filmes de terror dos anos 80. Paulinho, devido ao terrível medo que sente de ir para o inferno, sonha em realizar a mesma façanha que o pai, e por isso mal toca a namorada. Uma vez esbarrou sem querer em um dos seios da moça. Ficou um dia inteiro em jejum para que Deus o perdoasse.

Cadê painho? Pergunta Neidinha com um ar enjoado

_ Vai depois. O carro ainda num ta pronto.

_ Ôxi mainha, agênti vai a pé, é? Qui droga!

Eram 7 e 40 (na verdade eram 19 horas, 40 minutos e 17 segundos). Iam as três, atrasadas, pela rua. Três bundas grandes e redondas, atrasadas, carregando suas bíblias. Irmã Branca não tinha só a bunda grande. Tinha também peitos e barriga igualmente enormes. A mulher era um “bucho”. Durante a juventude fora uma das meninas mais gostosinhas do bairro. Seus seios e cochas eram firmes como rocha. Até Jesus lhe salvar e ela se casar aos dezenove anos com seu Medeiros, havia transado com dezessete rapazes: 3 visinhos, 4 colegas de classe, um pedreiro que trabalhou numa reforma em sua casa, 2 primos, um jornaleiro, 3 carinhas de um congresso estudantil na Paraíba, um hippie, um namoradinho de portão e o irmão gêmeo dele. Todos agora muito aliviados de não terem casado com ela.

Na última esquina antes do templo encontram Lúcio: Paz do sinhô dona Branca. Ela não responde. Não o suporta. Neidinha finge não conhecê-lo. Rosemeri o olha bem nos olhos. “Hipócrita!” Pensa. Ele sorri.

Na porta da igreja está irmão Josias. O porteiro. Aperta a mão de todos. Ri para todos. É um completo idiota. Trabalha de graça para a igreja, trabalha de graça para o pastor que, por sua vez, é sustentado pela congragação. Irmão Josias não sabe ler nem escrever. Um analfabeto com uma bíblia. Sorri. Aperta a mão de dona Branca:

_Paz do sinhô.

_Amem! Ela responde azeda.

O interior da igreja é como um zoológico. Animais de todas as espécies encarcerados nas jaulas da falsa moral. Cada animal, como num zoológico de verdade, emite um som diferente: Choram, riem, gritam, gemem, sussurram, fofocam, falam em línguas estranhas e por ai vai. Como num grande zoológico.

Rosimeri senta no fundo. Irmã Branca toma seu acento no coral. Neidinha encontra um lugar perto da banda, coloca a bíblia sobre o banco, ajoelha-se, mas não ora, fica em silêncio por alguns instantes e depois se senta. De onde está pode ver Lúcio tentando afinar o baixo. O Silveira está doente. Uma irmãzinha, em lágrimas, testemunha, no púlpito, uma benção recebida. Uma “porta de emprego”. Seu marido, alcoólatra, há quatro anos desempregado, foi contratado como lavador de banheiros (o que ela chamou de auxiliar de serviços gerais) em um mercadinho que fica na avenida seis, cujo o dono é um soldado da policia militar que ficou rico, honestamente, emprestando dinheiro. Glória Deus!

Irmão Medeiros, enquanto mija, olha um calendário pregado em uma das paredes do banheiro da oficina. É do ano passado. Na estampa uma loira magra de pele bronzeada, seios impossíveis e uma buceta peluda. No alto da foto o logotipo do mercadinho da avenida seis, seguido de um “volte sempre”. Se não fosse pela foto da loira magra de pele bronzeada, seios impossíveis e uma buceta peluda, irmão Medeiros estranharia um calendário dentro do banheiro. Um calendário do ano passado. Olhando para a loira magra de pele bronzeada, seios impossíveis e uma buceta peluda, balança a rola mole. Quase inicia uma punheta. Pensa: Quanta diferença! Tudo passa. Tudo na Branca passou. A bunda e os peitos durinhos, a buceta e cu apertadinhos. Tudo passa, só a palavra de Deus permanece para sempre. Sai do banheiro sem lavar as mãos:

_ Tá prôntu?

_ Tá nôvu!

_ Quântu é?

_ Mi dá cem côntu i tá nôvu.

_ Porra Guilhermi!

_ Qué íssu irmão? Hôji á dumíngu. Era preu tá dicançânu.

_ Toma, toma.

O Pastor pede que todos se levantem: Vamos orar para que Deus abençoe nossos dízimos e ofertas. Todos ficam de pé. Enquanto todos oram...

Projeto gráfico do CD do grupo de RAP Relato Consciente





Desse eu não gosto. No final das contas ficou muito longe do que eu esperava. Houve um corte no orçamento e consequentemente grande parte das minhas idéias entraram pelo cano. O cliente gostou.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Projeto gráfico do CD do raper Diomedes Chinaski.





Na verdade, isso não é bem um projeto gráfico. É uma "capinha". O projeto do Diomedes Chinaski tava meio atrasado no lançamento, então ele me pediu pra elaborar alguma coisa pra o álbum ir pra rua. Pra o CD ter uma cara. Mesmo sendo feito em cima da hora, eu gostei muito do resultado. Simples e elegante como diria meu amigo Luiz Oliveira.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Ilustração para o livro dos Campana.


Lembram da capa do livro dos irmãos Campana que eu fiz em um dos tantos trabalhos da faculdade? Espero que sim. Bom essa é a ilustração original usada para capa. Foi Cintya Oliveira, minha esposa, quem fez.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Ilustracões para o trabalho de Design Comtemporâneo






A idéia era fazer uma cartilha sobre consumismo e design e emocional.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Flamel



Essas casinhas eu criei em 2009 para os cenários do jogo Flamel da OJE.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Mais coisa que faço no trabalho.





No final fica tudo tão pequeno que mal dá pra ver as coisas. Humf...

Banda que não lembro o nome


Ilustração feita para o projeto gráfico de uma banda que não lembro o nome agora. Eles recusaram esse desenho. Não ficou muito legal mesmo. Eu admito. Desenhei a mão, scaniei, artifinalizei no Illustrator e colori no Photoshop.

Abóboras (girimuns)



Abóboras feitas para a tatuagem do Carlinhos. Por algum motivo ele desistiu. Fiz o esboço no Photoshop e artifinalizei e colori no Flash.

In Mundo PE


ILustração/montagem feita para o projeto gráfico do CD da banda In Mundo PE. Infelizmente a banda acabou antes que o projeto ficasse pronto. Gostei muito desse trabalho! A foto foi trabalhada no Photoshop e as ilustrações foram totalmente desenvolvidas no Flash, desde o esboço até o colorido.